quinta-feira, 5 de abril de 2012

Livro: Jogos, Passatempos e Habilidades



Dia desses ganhei o livro Jogos, Passatempos e Habilidades para Crianças, compilado por Nina Caro. Um tesouro (tijolão) de 470 páginas, Edição da Livraria do Globo, Porto Alegre - RS, 1944. Uma raridade ilustrada por João Mottini, Vitório Gheno, Honório Nardin e Jayme Tongel. A capa é de Ernst Zeuner. O seu delicioso (e saudosista) prefácio, escrito há 68 anos, mostra como mudaram os conceitos de infância, de educação, de família..., de pátria amada e idolatrada (salve, salve quem puder!). Ou será que não?


Jogos, Passatempos e Habilidades para Crianças
Prefácio

 Da nossa vida em família, do amor que temos ao nosso lar, é que depende o futuro da nação. E quando o estrangeiro indaga por que motivo é o brasileiro tão amável e acolhedor, pode-se lhe responder: “É porque estima a família; porque vive em harmonia com os seus; porque no seu país a criança é considerada como o homem do porvir e recebe todos os cuidados que se possam imaginar, não só física, mas também moral e intelectualmente”.

Mas de quê consta o espirito do lar? Como é que se cria o atrativo pessoal? Consistem eles na paz e no afeto que reinam entre as diversas pessoas reunidas na mesma casa, no bom humor que irradia alegria de viver e, por fim, numa imaginação produtiva e bem orientada. Acresce que o nosso êxito, tanto na vida familiar como na carreira individual, amiúde depende do grau da nossa adaptabilidade. Depreende-se daí o valor educativo dos jogos, que grandemente nos ajudam a adquirir tais capacidades; pois sem adaptação mútua dos diferentes jogadores não há jogos coletivos.

Encaremos primeiro o jogo primordial, o brinquedo ingênuo da criancinha! Esta ainda não se interessa, é verdade, pelo jogo em comum. Mas passa a maior parte de seu tempo a brincar e dessa maneira aprende muita coisa nova que a vida todos os dias lhe oferece. Na parte dos jogos e passatempos para crianças, o nosso livro proporciona grande numero de sugestões quanto ao modo de ocupar as crianças e auxiliá-las a bem aproveitarem seu tempo. Assim aprenderão brincando e brincarão aprendendo. Há também numerosos passatempos que os adultos gozarão na companhia dos pequenos, sem se cansarem nem aborrecerem. Nessas horas que os pais lhe dedicam, a criança sente nitidamente a afeição e o interesse que lhe são devotados. A sensação de ser amada, a certeza de ter um lugar assegurado no coração dos pais há de formar nela estas qualidades tão apreciadas nas pessoas cultas: a graça e a amabilidade.

A maior parte deste livro contém jogos e passatempos para crianças, embora seja breve a duração da infância. Mas é nessa fase da nossa vida que o jogo se encontra no centro das nossas ocupações. Ai de nós! quão rapidamente passa o tempo que nos conduz dos jogos que praticamos por gosto ao trabalho que a vida nos impõe! Justamente por isso é que devemos cultivar e incentivar o brinquedo infantil. Cuidemos em que as crianças possam aproveitar à vontade esse período, desenvolvendo ao mesmo tempo suas forças e aptidões. A concentração e energia empregadas nos jogos infantis hão de transformar-se mais tarde em prazer no trabalho, tornando-se assim úteis para a vida profissional do adulto.

 Mas não basta orientar o jogo da criança pequena. É preciso evitar que os adultos de meia idade e seus filhos de idade escolar vivam em mundos diferentes, que se abram abismos entre as gerações, que as relações familiares sejam perturbadas por recíproca incompreensão. Dai a conveniência de cultivarmos também mais tarde, o jogo e o passatempo em comum. A segunda parte do nosso livro procura fornecer material adequado para esse fim, tratando de jogos e passatempos para moços e velhos, reunidos na sala da família. Algumas seções, como a dos jogos de cartas, destinam-se exclusivamente a adultos. Jogos dessa ultima espécie não têm a finalidade dos infantis, de servirem de válvula de escape para o excesso de energia. Exercem antes a função de restabelecer as forças esgotadas, o que conseguem pela variação que introduzem na vida rotineira. Executados com toda inflexibilidade das suas regras e até com certa gravidade, podem ao mesmo tempo contribuir para o gozo da vida, o qual, em grande parte, provém da riqueza e do colorido que saibamos dar à nossa existência. A atividade dos jogos forma como que um contrapeso às coisas que apenas recebemos com os olhos e os ouvidos e que hoje em dia, na era do rádio e do cinema, ocupam demasiado espaço dos nossos lazeres.

 Aos adolescentes que tanto gostam de jogos coletivos como do treinamento físico individual, dedicamos outra parte deste livro: os jogos atléticos. Pode ser que nesse capitulo se note falta de regras para grande número de jogos esportivos. Mas era impossível registrá-las sem aumentar em demasia o volume da obra. Além disso, é relativamente fácil obtê-las em outra parte. Omitimo-las, portanto, de propósito, em favor das representações que se podem realizar com poucas pessoas, seja no circulo da família, seja num clube, e são capazes de entreter de modo agradável grupos relativamente grandes. Muita gente se dedicará com grande prazer à tarefa de criar alegria por meio de exibições cênicas. Outros preferirão os simples truques, ao passo que alguns, dotados de suficiente habilidade e persistência, talvez consigam a necessária perícia para dar um verdadeiro espetáculo de mágica.

Segundo a nossa intenção, este livro deve ser uma fonte de divertimento para todas as gerações. Selecionando a superabundância da matéria, esforçando-nos por dar um pouco de tudo, esperamos ter ido ao encontro de todos os gostos. E assim desejamos aos leitores bom aproveitamento das nossas sugestões. Oxalá o nosso livro transmita um pouco da alegria que nos experimentamos ao fazê-lo.    


Jogos, Passatempos e Habilidades para Crianças é um livro raro e descobri, em pesquisa, que é também caro (na web varia entre 100 e 450 reais). A edição que ganhei está um pouco abatida, com algumas páginas amareladas, por causa da idade, mas inteiro para um bom uso. Fiquei encantado com a quantidade de Jogos, Passatempos e Habilidades para Crianças, Jovens e (até) Adultos, que ele oferece. Grande parte do seu conteúdo eu não conhecia e ou não me apercebia de aplicação tão dinâmica. E olha que cresci inventando meus próprios brinquedos.

O livro traz formas interessantes de se contar histórias. Entre elas se encontram uma que eu já utilizava, com variação, num antigo projeto de 2008: Hora das Atividades Lúdicas, e outra que fiquei apaixonado: Jogos de Dedos, mais que perfeitos para trabalhar a coordenação motora dos pequenos (e a habilidade dos professores!). Entre inúmeras atividades o leitor encontra fabricação de brinquedos e bonecos feitos com os mais diversos materiais: casca de amendoim (!), borracha (câmara de ar), papel, papelão, madeira etc. Os móveis de papel (cartolina) eu cheguei a fazer (acho que no primário). Tem jogos dramáticos, ideais para a iniciação teatral e um montão de outras atividades práticas e muito divertidas. Realmente é uma compilação e tanto!

Bem, assim que ganhei e folheei este fascinante livro de Nina Caro, pensei em tentar criar (sempre que possível!) alguns dos brinquedos e bonecos e postar aqui (com o passo a passo). Eu disse tentar criar porque muitos trabalhos exigem tempo e o passo a passo nem sempre é ilustrado. Um deles já consegui fazer, substituindo a madeira por embalagem de pizza industrial: Um cão que sacode o rabo (este da ilustração). Falo dele assim que fizer a próxima postagem. Ah, e se conseguir scanear alguma atividade bacana (o livro é muito pesado e volumoso!) posto por aqui e aviso por aí!


Nina Zabludovski Caro nasceu em Bialistok (na época, parte da Rússia e posteriormente, parte da Polônia), em 1906. Estudou em Colônia, Genebra e Danzig, onde concluiu o doutorado em Germanística, com especialização em Arte Dramática, em 1933. Nina conheceu e se casou em Herbert Caro (graduado em direito e letras) em 1935, e no mesmo ano se mudaram para Porto Alegre-RS. No Brasil conseguiu um emprego de meio turno da Livraria do Globo, onde foi colaboradora de Gilda Marinho, na seção A Mulher e o Lar, e no outro turno dava aulas particulares de alemão, inglês e francês. Incentivada pela mãe de dois alunos particulares, Nina escreveu um livro sobre o ensino da língua alemã, Aprende brincando, criança!, publicado pela Editora da Livraria do Globo, e outros livros didáticos (em português e em alemão): Aprende brincando a contar!; Mostre o que sabe!; Jogos, Passatempos e Habilidades (Editora Globo); Lachen und Lernen (Editora Sulina); Raten Sie mal!! (Ernst Klett Verlag, Stuttgart).

Alguns desses livros, sob a forma de charadas, enigmas, problemas e adivinhações, com vários joguinhos referentes a adjetivos, advérbios, substantivos, numerais, facilitavam o aprendizado do alemão, tanto por crianças, como por adultos. As obras de Nina Caro expressam um outro método de aprendizagem - um processo lúdico, mas que exige raciocínio, o estabelecimento de relações e a descoberta pessoal. Nina Caro faleceu em 1993, aos 87 anos.

Informações transcritas da matéria: Nina Caro, uma mulher de destaque, de Anita Brumer e Ieda Gutfreind, publicada na Revista Contingentia, do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, em Maio de 2007. Ilustrações: capa, página de rosto e modelo de brinquedo.

2 comentários:

  1. Esse livro é muito bom,embora muito antigo.Mas nele achei muitas coisas boas.

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    Respostas
    1. Olá, Marjorie.
      É um livro muito bom mesmo e cheio de ótimas ideias de ontem com muita utilidade nos dias de hoje.

      Abs.

      T+

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