Dia
desses ganhei o livro Jogos, Passatempos
e Habilidades para Crianças, compilado por Nina Caro. Um tesouro (tijolão)
de 470 páginas, Edição da Livraria do Globo, Porto Alegre - RS, 1944. Uma
raridade ilustrada por João Mottini, Vitório Gheno, Honório Nardin e Jayme
Tongel. A capa é de Ernst Zeuner. O seu delicioso (e saudosista) prefácio, escrito
há 68 anos, mostra como mudaram os conceitos de infância, de educação, de família...,
de pátria amada e idolatrada (salve, salve quem puder!). Ou será que não?
Jogos, Passatempos e Habilidades para
Crianças
Prefácio
Da nossa vida em família, do amor que temos ao
nosso lar, é que depende o futuro da nação. E quando o estrangeiro indaga por que
motivo é o brasileiro tão amável e acolhedor, pode-se lhe responder: “É porque estima a família; porque vive em
harmonia com os seus; porque no seu país a criança é considerada como o homem
do porvir e recebe todos os cuidados que se possam imaginar, não só física, mas
também moral e intelectualmente”.
Mas de
quê consta o espirito do lar? Como é que se cria o atrativo pessoal? Consistem
eles na paz e no afeto que reinam entre as diversas pessoas reunidas na mesma
casa, no bom humor que irradia alegria de viver e, por fim, numa imaginação
produtiva e bem orientada. Acresce que o nosso êxito, tanto na vida familiar
como na carreira individual, amiúde depende do grau da nossa adaptabilidade.
Depreende-se daí o valor educativo dos jogos, que grandemente nos ajudam a
adquirir tais capacidades; pois sem adaptação mútua dos diferentes jogadores
não há jogos coletivos.
Encaremos
primeiro o jogo primordial, o brinquedo ingênuo da criancinha! Esta ainda não
se interessa, é verdade, pelo jogo em comum. Mas passa a maior parte de seu
tempo a brincar e dessa maneira aprende muita coisa nova que a vida todos os
dias lhe oferece. Na parte dos jogos e passatempos para crianças, o nosso livro
proporciona grande numero de sugestões quanto ao modo de ocupar as crianças e auxiliá-las
a bem aproveitarem seu tempo. Assim aprenderão brincando e brincarão
aprendendo. Há também numerosos passatempos que os adultos gozarão na companhia
dos pequenos, sem se cansarem nem aborrecerem. Nessas horas que os pais lhe
dedicam, a criança sente nitidamente a afeição e o interesse que lhe são
devotados. A sensação de ser amada, a certeza de ter um lugar assegurado no
coração dos pais há de formar nela estas qualidades tão apreciadas nas pessoas
cultas: a graça e a amabilidade.
A
maior parte deste livro contém jogos e passatempos para crianças, embora seja
breve a duração da infância. Mas é nessa fase da nossa vida que o jogo se
encontra no centro das nossas ocupações. Ai de nós! quão rapidamente passa o
tempo que nos conduz dos jogos que praticamos por gosto ao trabalho que a vida
nos impõe! Justamente por isso é que devemos cultivar e incentivar o brinquedo
infantil. Cuidemos em que as crianças possam aproveitar à vontade esse período,
desenvolvendo ao mesmo tempo suas forças e aptidões. A concentração e energia
empregadas nos jogos infantis hão de transformar-se mais tarde em prazer no
trabalho, tornando-se assim úteis para a vida profissional do adulto.
Mas não basta orientar o jogo da criança
pequena. É preciso evitar que os adultos de meia idade e seus filhos de idade
escolar vivam em mundos diferentes, que se abram abismos entre as gerações, que
as relações familiares sejam perturbadas por recíproca incompreensão. Dai a
conveniência de cultivarmos também mais tarde, o jogo e o passatempo em comum.
A segunda parte do nosso livro procura fornecer material adequado para esse
fim, tratando de jogos e passatempos para moços e velhos, reunidos na sala da
família. Algumas seções, como a dos jogos de cartas, destinam-se exclusivamente
a adultos. Jogos dessa ultima espécie não têm a finalidade dos infantis, de
servirem de válvula de escape para o excesso de energia. Exercem antes a função
de restabelecer as forças esgotadas, o que conseguem pela variação que
introduzem na vida rotineira. Executados com toda inflexibilidade das suas
regras e até com certa gravidade, podem ao mesmo tempo contribuir para o gozo
da vida, o qual, em grande parte, provém da riqueza e do colorido que saibamos
dar à nossa existência. A atividade dos jogos forma como que um contrapeso às
coisas que apenas recebemos com os olhos e os ouvidos e que hoje em dia, na era
do rádio e do cinema, ocupam demasiado espaço dos nossos lazeres.
Aos adolescentes que tanto gostam de jogos
coletivos como do treinamento físico individual, dedicamos outra parte deste
livro: os jogos atléticos. Pode ser que nesse capitulo se note falta de regras
para grande número de jogos esportivos. Mas era impossível registrá-las sem
aumentar em demasia o volume da obra. Além disso, é relativamente fácil
obtê-las em outra parte. Omitimo-las, portanto, de propósito, em favor das
representações que se podem realizar com poucas pessoas, seja no circulo da família,
seja num clube, e são capazes de entreter de modo agradável grupos
relativamente grandes. Muita gente se dedicará com grande prazer à tarefa de
criar alegria por meio de exibições cênicas. Outros preferirão os simples
truques, ao passo que alguns, dotados de suficiente habilidade e persistência,
talvez consigam a necessária perícia para dar um verdadeiro espetáculo de
mágica.
Segundo
a nossa intenção, este livro deve ser uma fonte de divertimento para todas as
gerações. Selecionando a superabundância da matéria, esforçando-nos por dar um
pouco de tudo, esperamos ter ido ao encontro de todos os gostos. E assim
desejamos aos leitores bom aproveitamento das nossas sugestões. Oxalá o nosso
livro transmita um pouco da alegria que nos experimentamos ao fazê-lo.
Jogos, Passatempos e Habilidades para
Crianças é um livro raro
e descobri, em pesquisa, que é também caro (na web varia entre 100 e 450 reais).
A edição que ganhei está um pouco abatida, com algumas páginas amareladas, por
causa da idade, mas inteiro para um bom uso. Fiquei encantado com a quantidade
de Jogos, Passatempos e Habilidades para
Crianças, Jovens e (até) Adultos,
que ele oferece. Grande parte do seu conteúdo eu não conhecia e ou não me
apercebia de aplicação tão dinâmica. E olha que cresci inventando meus próprios
brinquedos.
O livro
traz formas interessantes de se contar histórias. Entre elas se encontram uma
que eu já utilizava, com variação, num antigo projeto de 2008: Hora das Atividades Lúdicas, e outra
que fiquei apaixonado: Jogos de Dedos,
mais que perfeitos para trabalhar a coordenação motora dos pequenos (e a habilidade
dos professores!). Entre inúmeras atividades o leitor encontra fabricação de
brinquedos e bonecos feitos com os mais diversos materiais: casca de amendoim
(!), borracha (câmara de ar), papel, papelão, madeira etc. Os móveis de papel
(cartolina) eu cheguei a fazer (acho que no primário). Tem jogos dramáticos,
ideais para a iniciação teatral e um montão de outras atividades práticas e
muito divertidas. Realmente é uma compilação e tanto!
Bem,
assim que ganhei e folheei este fascinante livro de Nina Caro, pensei em tentar criar (sempre que possível!) alguns dos
brinquedos e bonecos e postar aqui (com o passo a passo). Eu disse tentar criar
porque muitos trabalhos exigem tempo e o passo a passo nem sempre é ilustrado.
Um deles já consegui fazer, substituindo
a madeira por embalagem de pizza industrial: Um cão que sacode o rabo (este da ilustração). Falo dele assim que
fizer a próxima postagem. Ah, e se conseguir scanear alguma atividade bacana (o
livro é muito pesado e volumoso!) posto por aqui e aviso por aí!
Nina Zabludovski Caro nasceu em Bialistok (na época,
parte da Rússia e posteriormente, parte da Polônia), em 1906. Estudou em
Colônia, Genebra e Danzig, onde concluiu o doutorado em Germanística, com
especialização em Arte Dramática, em 1933. Nina conheceu e se casou em Herbert
Caro (graduado em direito e letras) em 1935, e no mesmo ano se mudaram para
Porto Alegre-RS. No Brasil conseguiu um emprego de meio turno da Livraria
do Globo, onde foi colaboradora de Gilda Marinho, na seção A
Mulher e o Lar, e no outro turno dava aulas particulares de alemão, inglês
e francês. Incentivada pela mãe de dois alunos particulares, Nina escreveu um
livro sobre o ensino da língua alemã, Aprende brincando, criança!,
publicado pela Editora da Livraria do Globo,
e outros livros didáticos (em português e em alemão): Aprende
brincando a contar!; Mostre o que sabe!; Jogos, Passatempos e Habilidades (Editora
Globo); Lachen und Lernen (Editora Sulina); Raten
Sie mal!! (Ernst Klett Verlag, Stuttgart).
Alguns
desses livros, sob a forma de charadas, enigmas, problemas e adivinhações, com
vários joguinhos referentes a adjetivos, advérbios, substantivos, numerais,
facilitavam o aprendizado do alemão, tanto por crianças, como por adultos. As
obras de Nina Caro expressam um outro método de aprendizagem - um processo
lúdico, mas que exige raciocínio, o estabelecimento de relações e a descoberta
pessoal. Nina Caro faleceu em 1993, aos 87 anos.
Informações transcritas da
matéria: Nina Caro, uma mulher de destaque, de Anita Brumer e Ieda Gutfreind, publicada
na Revista
Contingentia, do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, em Maio
de 2007. Ilustrações: capa, página de rosto e modelo de brinquedo.
Esse livro é muito bom,embora muito antigo.Mas nele achei muitas coisas boas.
ResponderExcluirOlá, Marjorie.
ExcluirÉ um livro muito bom mesmo e cheio de ótimas ideias de ontem com muita utilidade nos dias de hoje.
Abs.
T+